Homenagem de Carlos Drummond de Andrade a Federico
García Lorca
Sobre teu corpo, que há dez anos
se vem transfundindo em cravos
se rubra cor espanhola,
aqui estou para depositar
vergonha e lágrimas.
Vergonha de há tanto tempo
viveres – se morte é vida –
sob chão onde esporas tinem
e calcam a mais fina grama
e o pensamento mais fino
de amor, de justiça e paz.
Lágrimas de noturno orvalho,
não de mágoa desiludida,
lágrimas que tão-só destilam
desejo e ânsia e certeza
de que o dia amanhecerá.
(Amanhecerá)
Esse claro dia espanhol,
composto na treva de hoje,
sobre teu túmulo há de abrir-se,
mostrando gloriosamente
-ao canto multiplicado
de guitarra, gitano e galo –
que para sempre viverão
os poetas matirizados.
(Carlos Drummond de Andrade; poesia e prosa Nova Aguilar -1979 - pp. 253-4)
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
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